Até o Manequinho parou de fazer xixi

A semana não foi boa para o Botafogo. Dois ex-jogadores morreram, Max e Perivaldo, e o time levou uma virada histórica do São Paulo em casa, 4 a 3. Talvez por isso, o tradicional Manequinho tenha interrompido sua micção mítica.

Foto: Marcelo Migliaccio

Eu poderia ser torcedor do Botafogo. Cresci perto da sede da Rua General Severiano, vendo Marinho Chagas, Carbone e Nei Conceição de perto. Mas quando mudei pra lá meu coração já havia sido arrebatado por Félix, Lula, Manfrini e outros craques do Fluminense. O que não me impedia de admirar a suntuosa sede do alvinegro.


Foto: Marcelo Migliaccio


E seus ídolos imortais... meus também.


Foto: Marcelo Migliaccio

Claro que durante toda a adolescência eu gozei meus amigos botafoguenses por causa do jejum de títulos que durou 21 anos. Contava em coro e depois cantava "parabéns pra você" antes dos confrontos no Maracanã. Foi um tempo difícil, quando até a histórica sede de General Severiano foi vendida pelo então presidente Charles Borer, cujo irmão era um notório torturador da ditadura militar.



Pés, aliás, muito tem trabalhados pelo artista plástico Belmiro de Almeida. Seu original foi roubado em 1990 e esta réplica foi feita por Amadeu Zani. O time não poderia ficar seu seu mascote desde 1957 e a cidade sem um de seus mais tradicionais símbolos. Se bem que Belmiro se inspirou numa escultura semelhante, na Bélgica. Mas, se o hino do America é um plágio feito por Lamartine Babo, por que o mascote do Botafogo também não pode ser cópia?
A obra belga
O mascote alvinegro


Há divergências quanto à data, 1908, como diz a Wikkipédia, ou 1911, como está no pedestal? Há coisas que só acontecem com o Botafogo...


Foto: Marcelo Migliaccio

Há quem diga que o Manequinho lembra Garrincha quando criança. É, pode ser. Garrincha nasceu em... Pau Grande, afinal. E Manequinho foi retirado de seu lugar original, a Praça Marechal Floriano, no Centro, em 1927, por "afrontar os bons costumes", coisa que Garrincha fazia com seus marcadores dentro de campo.


Foto: Marcelo Migliaccio

A fonte quase sempre generosa refresca turistas no verão, dá banho em mendigos e também pode alimentar mosquitos da dengue. Ninguém é perfeito.

Foto: Marcelo Migliaccio

Talvez, nesta semana de luto para o Glorioso, o Manequinho, interrompendo seu xixi histórico, tenha prestado uma comovida homenagem aos ex-ídolos que foram para a morada do sol.

Foto: Marcelo Migliaccio



Comentários

  1. Poucas vezes vi o Botafogo sair vitorioso depois do minuto de silêncio. Aconteceu, por acaso, no jogo contra o Galo. Ali até Jefferson vestiu a camisa do homenageado. Mas era esperar demais que três dias depois a coisa se mantivesse firme. Tinha que dar merda. Certa vez o Botafogo ficou seis jogos sem vencer. A dar início ao ciclo de jejum um feito inédito: o traficante Dudu, da Rocinha, um alvinegro de alma, havia morrido a tiros pela PM. Seis ônibus deixaram a Rocinha com moradores vestidos com camisetas do Botafogo em direção ao São João Batista. O enterro foi uma festa alvinegra com choro, velas e cantoria do hino. Para conter o jejum foi necessário um ritual daqueles para despachar o espírito de Dudu que teimava em assombrar nossos atacantes. Torcedores levaram sal grosso para a arquibancada do Maracanã. Alguns fizeram orações em silêncio. Dito e feito: com a alma de Dudu finalmente em paz, as vitórias retornaram.

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  2. O Manequinho parou de fazer xixi em desagravo ao nosso futebol de péssima qualidade e também porque virou um negócio s.a. tanto para a TV como para alguns milionários jogadores.

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