Longe das praias




Mais um domingo nasceu lindo e fui celebrar pedalando. Dessa vez, no entanto, fugi da orla e parti para a Zona Norte. Meu destino era São Cristóvão onde há uma feira maravilhosa no único dia da semana que o sistema produtivo nos dá para efetivamente viver, ser feliz.

A feira não é dentro do Pavilhão, acontece fora dele, numa rua próxima. Tem de tudo, inclusive para manutenção de bicicletas.

O melhor da jornada foi a passagem pela Zona Portuária da cidade, que, desde que me entendo por gente, parece mais uma zona mortuária, tal a sua degradação. Armazéns abandonados, buracos na calçada e calombos no asfalto, mendigos, escuridão mesmo de dia, pois o elevado da Perimetral impede a chegada da luz solar na área do cais.

Tudo porém está mudando por lá. Há obras em vários pontos. Li que vão jogar 10 bilhões ali. A região vai ser revitalizada, tornando uma atração turística e um polo empresarial o primeiro cenário carioca visto por quem chega de navio.


E não havia um flanelinha pra botar esse transatlântico na vaga...

A Cidade Maravilhosa de um país que já produz mais riqueza que o Reino Unido (e ainda nem educaram nosso povo, imagine quando o fizerem!) merece ter um porto de primeiro mundo.

Mas fiquei pensando no que farão com os painéis do Gentileza, figura folclórica da cidade que andava pintando mensagens bíblicas e apocalípticas nas paredes. Nào sei se aquelas pilastras fazem parte da perimetral. Elas tiveram as pinturas restauradas e viraram patrimônio artístico. Acho que vão ser preservadas, espero. Quanto ao Gentileza, seu grafismo peculiar e sua principal mensagem ("Gentileza gera gentileza"), virou estampa de camiseta, adesivo etc, sem que sua família receba nada. Uma vez entrevistei uma de suas filhas, que nunca viu um centavo dessa grande indústria...


Hoje, Gentileza gera pirataria

Mas a maior jóia da Zona Portuária, eu conheci ontem. Chama-se Largo de São Francisco da Prainha, na Rua Sacadura Cabral, da qual eu sempre tinha ouvido falar mas onde nunca estivera. Fica na Gamboa (ou Saúde...) bem perto da Praça Mauá. Um pequeno recanto com uma pracinha e casas antigas, que, Deus queira, serão um dia recuperadas.


O singelo Largo de São Francisco da Prainha

Nas quase três horas de pedalada, não vi um pivete, um mendigo. Parece que foram mesmo empurrados para as cracolândias das favelas ou para bairros mais afastados do Centro e da Zona Sul. Ou então estavam dormindo mesmo porque, afinal, era uma manhã de domingo.

O Centro do Rio também está muito policiado e agora os turistas podem se maravilhar com a cúpula dourada do Theatro Municipal sem que algum velocista desperdiçado e órfão do Darcy Ribeiro passe a mão na sua máquina fotográfica...


Na Cinelândia dominical não tem estresse, só alegria. Atrás do teatro, à esquerda, o prédio branco que desabaria três dias depois.

O que deve merecer cuidado, principalmente por parte dos ciclistas numa calma manhã de domingo são os ônibus. Acho que alguns motoristas ficam revoltados de estarem trabalhando quando todos os que sofrem no trânsito dos dias úteis estão curtindo uma folga. O fato é que correm como loucos destoando da paisagem idílica de mais um domingo azul-verde-dourado no Rio de Janeiro.


Comentários

  1. Se você tivesse subido por uma das ruas que desembocam no Lgo da Prainha teria chegado ao Morro da Conceição, um dos lugares mais pitorescos do Rio, cheio de casinhas de 1800 e alguma coisa e, becos e vielas interessantes.

    É lá que ficam o Observatório do Valongo, a Fortaleza da Conceição, a Pedra do Sal, alguns ateliês de artistas plásticos e ruas com nomes divertidos como Ladeira do Escorrega e Jogo da Bola.

    Um programa, com certeza, que vale a pena fazer.

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  2. Legal os lugares por onde você passou. Eu, como não conheço o Rio, se fosse passear aí ia querer conhecer os lugares mais famosos e que todo mundo comenta: Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Jardim Botânico, Lagoa Rodrigo de Freitas, Copacabana, entre outros. Pra mim, que sou fanático por futebol, pena que o Maracanã não existe mais.

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    1. É, Emerson, vamos torcer para que o nosso eterno Maracanã conserve a velha alma carioca, mesmo transfigurado como está sendo... abração

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  3. Mas vai gostar de pedalar assim lá adiante!

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  4. Espetacular este post. Parece que a gente até lhe acompanhou no passeio. Nunca tinha ouvido falar do Largo de São Francisco da Prainha, mas parece mesmo ser muito interessante. Mais um dos muitos lugares do Rio que mereciam ser restaurados e revitalizados, como todas as imediações da Praça Tiradentes também, por exemplo. Construções lindas, históricas, transformadas cruelmente em cortiços. Restauradas, ficariam como Paris. Abs.

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